Estava triste...muita coisa mudou mas há algumas mudanças que, pelo menos agora, ainda não são para melhor, como por exemplo, almoçar sozinha numa zona da cidade que me parece sombria, mal-trapilha, suja e de outros filmes que não o meu. Gosto de algumas partes de alcântara durante a noite mas de dia a calçada está suja, as ruas cheiram mal e as tascas não tem o sabor dos jantares de turma.
Com a claridade vejo a pobre velhinha de preto com a pele carcomida, que se arrasta e transporta as moedinhas para a sopa...come como quem há muito acumula fome e com o cotovelo esconde a tigela que lhe aquece momentâneamente a alma.
Vejo de perto o homem donde se apagaram os sonhos e ficou o sebo da miséria e dos negócios mal-tramados que só lhe pagaram a cama mas deixaram um conjunto de talheres solteiro na outra ponta da toalha de papel na mesa gasta, mas tem um fio de ouro que exibe grosseiramente ao pescoço entre pelos e uma blusa que há muito perdeu a cor...que sofreu em troca de pouco.
Vejo-me a mim, a comer sozinha numa mesa a um canto perdida. Passo desapercebida aos outros mas sinto-me só! Saco do papel que imprimi na noite anterior, no conforto de quem no fim do dia tem um lar, com ele saio dali, a minha mente segue outro caminho...emocionaste-me com as tuas palavras e levo-as para onde levo a solidão, faz-me companhia, recorda-me desse sonho que não quero sujo como os que se passeiam em alcântara quando o sol brilha. Lá onde estás e para onde me levas sei que não estou só nem tenho medo de estar ali...que lugar tão feio...que dúvida fofinha desenhaste na minha alma, que até sendo dúvida me alegra.
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