Um presidente de um sindicato devia começar por outro tipo de lutas antes de saltar para as pós-materialistas...Acho que a classe tem problemas mais urgentes e prementes do que a diversificação do léxico. Na minha opinião os três C’s (Claro, Curto e Conciso) ainda continuam a fazer sentido numa sociedade onde o nível de compreensão da leitura (para não falar da falta dela) está muito abaixo do desejável...Mas isso sou eu, provavelmente é a minha veia do povo, a minha forma de encarar as notícias como algo que deve ser entendido por todos, acessível a quem quiser...porque teses, tratados filosóficos, dicionários e enciclopédias também já têm um lugar próprio e não precisam das páginas de jornais para brilhar.
Mas claro fica sempre bem a um presidente de um sindicato preocupar-se com estas questões quando os jornalistas trabalham, na sua maioria, em condições piores do que qualquer sapateiro, recebem menos que qualquer assistente de loja e engolem mais sapos do que qualquer engolidor de sapos do Circo Chen. A verdade é que num país tão minúsculo e pequenino onde o ordenado ainda faz algum sentido ao fim do mês às vezes é preciso preservá-lo em vez de levantar a voz e usar as páginas de jornal para expor a sua falta de condições...mas essas, não preocupam assim tanto o sr sindicalista...isso também não é questão para sindicatos, ou será?
Pena, pena é que me esqueci de escrever este apontamento de uma forma mais prolixa para ajudar a educar o leitorzinho inculto (segundo dr. Maia) porque afinal precisamos de dar uma mãozinha ao estado e aos professores que se deprimem com demasiada facilidade...E nós, profissionais do jornalismo, a quem nos sobra sempre imenso tempo livre podemos acumular perfeitamente essa função. Afinal, o nosso dia-a-dia é feito de dar sempre só mais um jeitinho, ficar só mais horazinhas a mais para garantir que se dá informação actualizada em tempo real e nunca receber mais um tusto que seja por esforçozinhos...Agora é só questão de trabalharmos mais umas cinco ou seis horinhas para cuidar do enriquecimento do léxico. De qualquer forma, as olheiras ficam-nos bem e ninguém quer ser jornalista e ter vida própria ao mesmo tempo, seria um pretensiosismo!
Oh, sô doutor Alfredo Maia, no tempo do Eça e do jornalismo literária esta farpa faria mais sentido...
«SJ: Jornalistas devem «esforçar-se» por variar linguagem
O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, considera que os profissionais da Imprensa devem «esforçar-se por dominar a Língua» e diversificar a linguagem, sem prejuízo de elaborarem notícias claras e concisas para que possam ser amplamente compreendidas.
Respondendo às críticas de que os jornalistas são co-responsáveis pelo uso simples e redutor da Língua Portuguesa, Alfredo Maia admite que os profissionais da comunicação social «optam por repetir as mesmas expressões», pressionados pelo ritmo frenético dos acontecimentos que os impedem de se esmerar na escrita.
«Isso é, de facto, empobrecedor», lamenta, ressalvando que não se devem «generalizar» os casos, já que, na sua opinião, há trabalhos jornalísticos «de uma enorme qualidade e riqueza» linguísticas.
O grande dilema dos jornalistas, segundo Alfredo Maia, é que, se não forem claros e concisos, dificilmente serão entendidos pelos seus leitores e ouvintes.
«A necessidade de concisão e simplicidade visa assegurar que a mensagem chega à generalidade dos cidadãos. É que a comunicação de massas destina-se a um público muito heterogéneo», justifica.
A «convicção» de que a maioria da população não possui «conhecimentos suficientes para descodificar» as prosas jornalísticas não deve ser impeditiva, de acordo com Alfredo Maia, para os jornalistas, enquanto promotores da Língua e da Cultura, transmitirem «progressivamente» termos que «não são habituais» à opinião pública.
«Sempre que possível, devemos introduzir variedade de expressões [nos trabalhos jornalísticos]», frisa, apelando, nestas situações, ao bom senso.
«Escrever um texto muito bem composto literariamente tornar-se-ia incompreensível para uma parte significativa» do público, insiste.
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o principal responsável pelo empobrecimento do uso da Língua em Portugal é a falta de hábitos de leitura, que deveriam ser fomentados em casa e na escola desde a infância.
«Se os cidadãos, desde pequeninos, convivessem com os livros e com a leitura, os problemas [baixos níveis de literacia] não se colocariam», sustenta.
Segundo Alfredo Maia, a «leitura militante» tem também que ser encarada como um desígnio «cívico» do jornalista, que «deve ter uma Cultura acima da média» e «cultivar a Língua, a sua ferramenta essencial» de trabalho.
Confrontado com as críticas de que os jornalistas possuem actualmente um défice de Cultura, o também repórter do Jornal de Notícias responde: «Há um pouco de tudo».
Maria Lúcia Lepecki, professora do Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa, defende que «a comunicação social tem uma importância absoluta no enriquecimento do léxico», salientando que há bons e maus jornalistas no domínio da Língua.
«Há excelentes jornalistas em Portugal que escrevem de maneira primorosa, com pertinência léxica e elegância sintáctica. Lê-los também é fundamental, não podemos passar sem eles», sublinha.
Mas, ressalva, há também jornalistas «com uma carência vocabular extraordinária e com um desconhecimento assustador da própria gramática da Língua», pelo que seriam necessárias «acções regulares de formação/reciclagem». »
IN Diário Digital / Lusa
1 comentário:
"...pressionados pelo ritmo frenético dos acontecimentos que os impedem de se esmerar na escrita."
Claro que nunca passaria pela cabeça de um sindicalista dizer, por exemplo, que as redacções têm jornalistas insuficientes e mal pagos e que a lógica economicista vigente nos media vos transforma, por falta de tempo, em meros embelezadores de comunicados ou notícias da Lusa... Não, é o ritmo frenético dos acontecimentos que vos impede de se esmerarem...
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