terça-feira, maio 02, 2006

Eu sei que e longo mas tem alguma coisa para pensar...

Saquei o seguinte texto do CM de hoje, comecei a ler e chamou-me...Por acaso não curto o mestre (apesar de gostar tanto de yoga) mas há que reconhecer que ele tem alguma razão...

Se a instituição emprego está cada vez mais frágil e doente, por que continuamos a querer ser empregados? Se cada vez mais a certeza é o desemprego e parcos salários, por que continuamos a sonhar trabalhar por conta de outrem? Se há estatísticas que comprovam que os empregos são causadores da maior parte das doenças sofridas hoje pela Humanidade, por que continuamos agarrados aos nossos empregos e com receio de mudar?


Que época rica em almas inspiradas: Alexandre Dumas, Victor Hugo, George Sand, Honoré de Balzac, Liszt. Estes e tantos outros juntos numa só época e num só lugar. Balzac já tinha escrito uma carrada de livros. Era o mais lido em Paris e as suas obras um sucesso pelo Mundo fora. Por esta altura, a sua mãe disse-lhe: “Honoré, não nasceste para escrever. Maldita a hora em que enfiaste essa ideia na cabeça. Você deveria ter um emprego regular e receber um salário ao invés de viver cheio de dívidas e ser insultado nos jornais pelos críticos que o ridicularizam com as suas caricaturas.”

Até a Igreja colocou o nome de Balzac na lista negra, considerando os seus livros perniciosos. Balzac, o Herege, o Maldito.

Ah, se Balzac tivesse ouvido a sua mãe? Ah, se eu tivesse ouvido a minha mãe? Hoje a Humanidade não teria “Le Comédie Humaine”. E eu seria um empregado numa empresa qualquer. Não teria escrito mais de vinte livros, não teria viajado pelo Mundo fora tantas vezes, não teria mudado para melhor a vida de tanta gente. Ter-me-ia limitado a trabalhar para viver e viver para trabalhar, como as legiões de empregados infelizes, sem motivação, que viveram e morreram sem nunca saber a que vieram ao Mundo.

Nesta idade actual, provavelmente, estaria velho, pobre e doente, como em geral estão os empregados nesta fase da vida, ansiando por uma reforma que, longe de ser libertadora, constituiria o prenúncio do fim.

Mas se a instituição emprego é nociva, por que os nossos pais nos aconselham a ser empregados? Pior: eles doutrinam, pressionam e muitas vezes obrigam-nos a esse desafortunado destino sem perspectivas. Conscientize-se desta realidade humilhante: se um amigo pergunta “O que faz o seu filho?” e o pai tem que responder “Ele é um empregado”, numa situação assim embaraçosa, é normal que o progenitor justifique: “Mas ele está muito bem. É uma carreira de futuro. Uma grande empresa.” Quando ouço isto, sinto como se fosse o pai de um escravo do império romano a responder: “O meu filho é escravo. Mas ele está muito bem: trabalha para um rico senhor, muito conceituado.”

E se o filho, ou filha, encontrar um caminho melhor? Instalasse em casa um clima de tragédia e tortura psicológica. Mas os pais não querem o bem dos filhos? Querem. Contudo, são condicionados pelo sistema e honestamente acham que o melhor é serem empregados.

Os historiadores estimam que nos últimos 50 mil anos, desde o período pré-histórico até ao final do século XIX, o esclavagismo era um princípio aceite e praticado por quase todos os povos. Era considerada uma prática natural, pois se não fossem os escravos, quem construiria as grandes obras e quem trabalharia nas residências? O trabalho escravo parece ter todas as vantagens e sempre contou com o beneplácito da religião. Mesmo pessoas tidas como bondosas e inteligentes não viam nada de mais em ter escravos.

Pode declarar-se que a Humanidade sempre explorou a escravatura e que a supressão dela no século XX foi um pequeno espasmo, um soluço na História laboral da Humanidade. Num dado momento, ocorreu um espasmo de transição, motivado em grande parte pela Revolução Industrial: a maior parte das nações e todos os intelectuais despertaram da sua letargia e declararam-se contra a escravatura. A nova onda era o emprego.

O que eles não confessaram, talvez nem se tenham dado conta, é que a legião de empregados era apenas uma leve adaptação de esquema de esclavagismo. Ninguém quis reconhecer que a instituição da mão-de-obra descartável beneficia todos menos os empregados que eram explorados para que o sistema se mantivesse em movimento. Sem a massa anónima de empregados, as indústrias não funcionariam, o comércio entraria em colapso e os serviços quem os faria? Portanto, o melhor sempre foi usar um tapa olhos e mostrar à sociedade só a metade que convinha.

Nessa óptica, os empregados são como soldados de um exército. Os generais sabem que os soldados estão ali para serem sacrificados. Antes de uma batalha são avaliadas as expectativas de baixas: 30%, 50%, 70%? Mas a batalha precisa ser ganha. Para a instituição militar, se o comandante tiver pena de enviar os seus comandados para a carnificina, estaria a subverter o sistema e seria ele próprio o sacrificado.

Na instituição do emprego é a mesma coisa: os empregados ganham mal, são humilhados, contraem doenças laborais e vivem na corda bamba, já que a qualquer momento podem ser demitidos.

Então, porque cargas de água nossos pais nos empurram para esse destino impiedoso? Porque toda a sociedade tem que ser condicionada por uma verdadeira lavagem cerebral sistemática a considerar que a única opção é ser empregado.

Em pleno século XXI, podemos afirmar que a instituição emprego e que a relação patrão-empregado estão obsoletas. Ainda vão durar bastante tempo, pois a mudança de um paradigma demora a processar-se. Contudo, hoje já existem plenas condições para os jovens optarem por carreiras não convencionais. Aliás, é aqui que se encontram as melhores e maiores oportunidades. Acontece que toda a sociedade está estruturada para produzir um contingente humano para a sua força de trabalho. Tudo gira em torno disto. O humanóide demora a incorporar mudanças.

Não pregamos que os jovens deixem de estudar. Mas defendemos o direito de quem queira estudar para ser empregado numa carreira comum que o seja. Mas, por outro lado, respeitamos a liberdade de escolha de quem queira seguir uma carreira nova, diferente, inusitada, que o realize mais, ainda que seja a de saxofonista ou de instrutor de Yôga.
Com base num artigo escrito pelo Mestre DeRose e lido na sua webclass de 19 de Julho de 2005 (www.uni-yoga.org.br)

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