terça-feira, janeiro 30, 2007

Sou sim!

- Sou sim, porque acho que o aborto vai continuar a existir sendo sim ou não. Porque as mulheres que não têm condições económicas vão continuar a morrer no vão de escada ou a ficarem estropiadas para a vida. E, as mais ricas, na maioria dos casos, vão continuar a sentir-se criminosas mesmo fazendo-o numa clínica de pediatria ou obstetrícia prestigiada em Portugal ou em Espanha.
- Sou sim, porque sou a favor da vida, mas também da dignidade humana e da liberdade de escolha.
- Sou sim, porque não quero que as mães abortem com medo do que os outros vão dizer, às escondidas, sem informação e cheias de medo de se aconselharem ou falarem com quem quer que seja. O não, na maioria dos casos, não permite decisões ponderadas, apenas desesperadas.
- Sou sim, porque acho que um filho deve ser o fruto do amor de duas pessoas ou de uma, pelo menos.
- Sou sim, porque não há educação sexual nas escolas, nem planeamento familiar que chegue a toda a população portuguesa.
- Sou sim, porque o sexo ainda é um tabu e centenas de pais, amigos e familiares se recusam a falar dele nos moldes correctos e admitir que ele existe e que tem consequências.
- Sou sim, porque defendo a igualdade social.
- Sou sim, porque o não, não muda nada. Não mudou em 1998 e não sou utópica para acreditar que mudará agora.
- Sou sim, porque me irrita a demagogia e a hipocrisia das pessoas neste assunto.
- Sou sim, porque o não só diz às mulheres que são umas criminosas enquanto fecha os olhos à realidade e as remete para a clandestinidade.
- Sou sim, porque o sim não obriga quem não quer fazer mas evita assistirmos a muitas mulheres esvaídas em sangue e com medo de irem a um hospital.
- Sou sim, porque já se provou que a lei que temos actualmente nesta matéria não funciona.
- Sou sim, porque prefiro que as mulheres abortem, em vez de, deitarem os filhos pelos canos abaixo, os abandonem em lixeiras, violem, queimem com pontas de cigarro ou maltratem até à morte como temos assistido.
- Sou sim, porque prefiro o aborto à pedofilia impune cometida por tantos membros do governo e por centenas de ciadadãos (E que, na maior parte dos casos, toda a gente sabe e fecha os olhos).
- Sou sim, porque já conheci pessoas que o fizeram e nunca consegui olhá-las como criminosas.
- Sou sim, porque o que está liberalizado actualmente é o sim clandestino.
- Sou sim, porque se fosse não, teria que me sentir culpada pela permissão que já existe na lei de abortar em casos de deficiência ou violação. Porque esses fetos também são seres humanos e também têm direito à vida.
- Sou sim, porque se não, defenderia que as mulheres que fazem abortos, de facto, fossem para a cadeia, caso contrário, seria hipócrita.
- Sou sim, porque quem não quer ter mesmo uma criança e, não conhece ou não tem ao seu dispor outros meios, é capaz de cometer as maiores barbaridades contra o seu próprio corpo (como ingerir doses industriais de certos medicamentos ou auto-mutilar-se das formas mais atrozes) até provocar um aborto 'espontâneo'. E isso, também não me parece justo ou humano.
- Sou sim, porque não acredito que a gravidez seja assunto para ser determinado num código penal.
- Sou sim, porque acho que a maioria das mulheres que o fazem, fazem-no por faltas de condições que não acredito que o estado português alguma vez consiga garantir. Muitas outras, fazem-no porque não querem simplesmente ter filhos e, ser mãe, na minha opinião deve ser uma bênção, uma vontade, um desejo mas nunca, uma obrigação.
- Sou sim, porque não há meios contraceptivos (temporários) infalíveis.
- Sou sim, porque sou católica e acredito na justiça, no perdão e no verdadeiro amor cristão.
- Sou sim, porque não conheço ninguém, que não conheça alguém que já o fez. Acredito que, se de facto existissem estatísticas fidedignas, chegar-se-ia à conclusão de que, pelo menos, uma em cada dez mulheres portuguesas já abortou.
- Sou sim, porque nunca fui capaz de acreditar em promessas políticas de sucessivos governos desde que me lembro de ter consciência política.
- Sou sim, porque idealmente preferia ser não, face a condições ideais, que não existem nas sociedades actuais.
- Sou sim, porque se fosse não, faria sexo desprotegido e conceberia todos os frutos dessas relações. Porque considero que quem defende a vida deve opor-se contra esses desperdícios de vida que se acumulam num preservativo usado com prazer.
- E sou sim, por muitas mais razões certamente…
Mas, na realidade, não me oponho a alguém que acredite num não convicto, sincero, de alma e coração. Caso contrário, tenho pena!

6 comentários:

Jordan disse...

Muito bom!!
Disseste tudo, Alentejo :)

João Tomaz disse...

Concordo quase integralmente com o que está aqui escrito.

Susana Lé disse...

Este texto está muito bom!
Exprime tudo o que tu sentes!
E o que está mal neste País!
;)))

Rita disse...

andaste a ver o debate da RTP : )

escrevinhadora disse...

Vi sim Rita e fiquei tão incomodada que não pude deixar de escrever!

ChiCa disse...

1º post sobre o sim que gosto!!! Muito bom!!!