sexta-feira, maio 27, 2005

Mendigos de Lisboa

Já não se pode andar de carro ou a pé em Lisboa sem ser assediada por cento e cinquenta mendigos à hora. Eu juro que sou uma alma caridosa, mas depois destas voltas fico sempre a sentir-me mal. A questão é que ao primeiro dá-se de boa vontade, ao segundo ainda há umas moedinhas, ao terceiro começo a fazer cara feia e a partir dai sinto-me uma pessoa horrível por não ajudar os próximos 147. A questão é que nunca se sabe quem se está a ajudar, se de facto precisam ou não e, apesar do coração mole também não sou o tio patinhas.
O primeiro de hoje era da cais e estava aflito para pagar a renda do quarto este mês, a segunda vendia pensos e alças para soutiens (cada vez a oferta é mais estranha), a terceira era uma miúda venezuelana e estava a pedir para comprar uma carcaça, o quarto já não quis saber disse que não, e não, e não, e fiquei lixada por me deixar um mal-estar estúpido mas tive que o ouvir a resmungar enquanto o semáforo não abriu porque não tive lata para lhe fechar a janela na cara. Eu também estou no desemprego, eu também tenho uma pena atroz que este país vá de mal a pior mas...não dá!
Nestas alturas lembro-me sempre de uma história que a minha avó me contou há muitos anos atrás, de um sr que costumava a estar a pedir na Av. João XXI e a quem a minha avó dava sempre esmola. Um dia, quando passou por lá ao fim da tarde, viu o choffer do homem a apanhá-lo num bruto carrão. O que me preocupa é precisamente isso: quantas moldavas a quem dei esmola se encheram de ouro? quantos gajos usaram a esmola para a droga? Quantos pais venezuelanos ou de que nacionalidade sejam usam e abusam dos filhos para pedir em vez de tentarem arranjar um emprego? Quantos burlões se escondem por trás de mendigos e arrumadores que nos torturam e deixam com peso na consciência? E às vezes mais, porque uma vez que não dei esmola a um puto com cara de estúpido que costumava estar sempre nos semáforos de santa Maria e o gajo começou a vingar-se no carro aos pontapés...
Outra vez ia com um amigo meu e uma mulher, com um sotque bem alentejano, abordou-me a pedir dinheiro para a camioneta. Disse-me que tinha sido assaltada e que precisava mesmo de ir para casa. Tinha para ai uns 40 e tal anos. Estava toda a tremer. Tive pena e despejei a carteira para ela comprar o bilhete. O meu amigo fartou-se de me gozar a dizer que ela estava a tremer por causa da ressaca da droga e que eu era uma ganda tansa. Fiquei furiosa com ele. O que é certo é que passados dois dias a mesma mulher estava no mesmo sitio, a pedir dinheiro com a mesma desculpa, e voltou a achar que eu tinha cara de boa pessoa. Desta vez, fiquei lixada. O dinheiro que lhe dei dava para o bilhete e o meu amigo provavelmente tinha razão e ainda hoje me goza....ai como é bom disfrutar da cidade....

1 comentário:

Maria João Rodrigues disse...

A melhor maneira de os evitar é ser como eles.Quanto te pedirem...pede-lhes tu uma sopa e vais ver que mudam de vitima. O tempo da Madre Teresa já lá vai.