quarta-feira, julho 14, 2004

Insegurança

...é o pior de todos os males. A determinação move mundos a insegurança faz tremer o mais firme bloco de cimento. Treme por dentro mas quem passa ali, todos os dias, começa a pôr em dúvida se é de cimento ou plasticina cinzenta.
Aquela célebre frase de um anúncio (de mulheres, claro, só podia) que dizia "Se eu não gostar de mim, quem gostará?" é genial. É simples mas difícil de alcançar para quem hesita nos momentos mais errados. A capa da insegurança pode ser tão inquebrável que se confunde, frequentemente, com arrogância e mau-feitio. O que também não ajuda nada. É demasiado óbvio que se alguém é inseguro e o tomam por arrogante a coisa só piora.
Um inseguro a tentar explicar-se a si próprio dava um filme do Woody Allen. É tragicamente cómico, inacessível e sem sentido mas demasiado extraordinário. A um inseguro pode-se dizer tudo porque só vai acreditar na parte má, só vai perceber se lhe falarmos em pessimismo e pintarmos de negro e cinzento todos os quadros.
Burrros, inteligentes, génios...feios, bonitos, lindos...toca a todos! Mas parece afectar mais os bons que os maus, é estranho.
Faz-me lembrar aquela parte do poema Tabacaria de Álvaro de Campos que diz:
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.