terça-feira, julho 06, 2004

Um café qualquer

A noite foi longa demais, dormi poucas horas e o sono teimava em não me abandonar. Tinha uma entrevista marcada às 10 da manhã, em Telheiras. Saí com a antecedência necessária de quem se costuma perder pelas ruas tormentosas de uma cidade desorientada. Cheguei 15 minutos antes da hora. O local estava identificado, era o momento de procurar um café para acordar o tico e o teco. Duas portas à frente do sítio combinado- o alvo. Entrei. Não tinha janelas, só 2 portas, uma de cada lado do rectângulo. Alguém se lembra de abrir um espaço comercial sem janelas? As mesas desanimadas com lugar para 4 ou 6 pessoas tinham 1 em cada ponta. Ao passar a porta senti vários olhos. Não estavam a reparar em mim mas parecia uma cantina em que todos estão obrigatoriamente virados para o mesmo lado a mastigar compulsivamente. Agarrados aos bolos e sanduíches, sem fazerem intervalo para respirar, como quem costuma comer sozinho. Manjedoura talvez. Tudo num silêncio sombrio pouco característico dos cafés. E uma corrente de ar incómoda marcada pelas duas entradas. Era desagradável. Não cheirava a comida mas talvez fosse preferível o cheiro para dar um ar mais característico ao espaço.
Do outro lado o empregado dirige-me um bom dia com o ar mais desconsolado do mundo. Eu que dormia em pé tinha de certeza um ar bem mais activo. Por trás da sua cabeça uma placa: "Fazemos comidas para festas" com uns palhacitos e balões a saltarem da folha de papel mal impressa. Com aquela alegria no ambiente duvido que a comida me caísse bem. Lembrei-me de outra aplicação para a expressão : "Os olhos também comem"...
Agarrei no meu café e sentei-me na única mesa disponível. Virei-me ao contrário de toda a gente. Enquanto esperei que o café arrefecesse, fumei dois cigarros e rascunhei estas palavras. Não sei porque decidi escrever sobre aquele café mas quando saí senti-me aliviada. Ali só as moscas se passeavam alegremente!