terça-feira, julho 27, 2004

O puto da minha vida

É pequenino, gordo, rechonchudo e tem umas bochechas que dão ao sorriso um toque absolutamente fantástico. É lindo de morrer e irresistivelmente querido e meu.
Chego a casa, está sentado no meio dos avós a ver um livro e na sua fala tosca tenta explicar à avó os nomes dos animais que aprendeu na creche. É um quadro de ternura. Olha para a porta. Vê que estou a chegar. Sorri e fica a olhar, pensa meio segundo. Não resiste à novidade de mais uma babada. Começa a mexer-se e como não chega com os pés ao chão vai tentando deslizar as pernas e apoiando-se nas dos avós.  Com o ar mais heroico e destemido alcança o solo e vem ter comigo. Lança-me um sorriso e chama por mim da forma mais harmoniosa e dengosa que o meu coração já ouviu:  nêêêêêêêsssshhh....(a minha alma estremece e tudo de bom vem ao de cima... há mais um momento da mais pura ternura que se cola à memória)
Dá-me a mão -e o mundo muda de cor- como quem quer agradar na sua inocência mostra-me as suas riquezas: aponta para os brinquedos e agarra-se ao triciclo que lhe ofereci há vários meses. Ainda hoje não chega aos pedais mas adora empurrar o que julga ser a sua mota - chama-lhe popota.
É incrivel como tudo muda quando o sobrinho é nosso. Nunca fui particularmente sensível aos bebés dos outros. Nunca fui a correr para perguntar às mamãs, que passeavam orgulhosamente os seus rebentos, como se chamavam ou quantos meses tinham. Se algum, por acaso, se parasse na esquina da minha mesa de restaurante olhava apenas e a vida continuava. Quando os putos eram ranhosos era incapaz de dizer como a maioria das raparigas: "Ai, é tão querido". 
Mas este, a que chamo sobrinho, é mais que o mundo para mim, é o puto da minha vida, o único homenzinho de palmo e meio capaz de me fazer tremer e sentir um amor quase esquizofrénico. 
Parece que pegar-lhe ao colo no primeiro dia de vida prendeu-me para sempre. Foi como se arrancasse uma parte do meu coração e não a devolvesse. Está lá com ele eternamente.
Vê-lo torna o meu mundo mais perfeito. Um sorriso seu basta para saber que vale a pena viver para amar desta forma demasiado inexplicável e pura. 
 




2 comentários:

Anónimo disse...

Agora percebo por

Anónimo disse...

Agora percebo porque é que toda a gente te diz que devias escrever um livro... Sempre encarei a tua escrita jornalística como boa, apurada e correcta. Mas jamais havia lido aquilo que com o coração escreves. Erro meu! Já devia ter bisbilhotado o teu blog há mais tempo! Levaste-me às lágrimas. No entanto, e apesar de saberes que sou de choro fácil, este não foi um momento de pieguice. É que esse puto da tua vida é não o puto da minha vida mas sim a minha vida. Também eu fui daquelas a quem o apela da maternidade chegou tarde. Invejava as minhas amigas quando estas se babavam ao ver crianças nas ruas, passeadas pelos seus. Achei até que se calhar nunca teria a capacidade de amar assim como sentia que os meus pais me amavam. Forte e incondicionalmente. Sem cobranças. Sem medo de ser demais. Sem limites. Confesso que chega a ser assustador o que aquele bebé é para mim. Chuva, sol, névoa, luz, calor, frio... É tudo. Foi com ele que a expressão dar a vida por alguém ganhou sentido. É com ele que a palavra altruísmo ganha forma. Vibrar com cada graça sua passou a ser verbo do meu dia a dia. Encarnou a minha alma e o que mais quero é ver o homem em que se vai tornar.
Sabes que mais? Saber que o meu filho - o teu puto - é assim amado por ti só faz crescer a certeza que é um míudo maravilhoso, detentor do sorriso mais doce e lindo de todo o mundo, e que está cercado de pessoas que o vão ajudar a ser um ser humano bom.
Obrigada, minha querida!